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do que
viver um século sem conhecer tal ensinamento. "


segunda-feira, 1 de março de 2010

Espondilite Anquilosante

Trata-se de uma doença inflamatória crônica sistêmica que compromete preferencialmente a coluna vertebral, podendo também afetar as articulações periféricas (ombros, coxofemorais, etc.). Faz parte do grupo das espondiloartropatias.
O processo inflamatório acomete as articulações interapofisárias posteriores, cartilagíneas, a inserção dos tendões e ligamentos no periósteo (entesis), ossificação subligamentar em qualquer região da coluna, em especial na transição dorsolombar, dando origem aos sindesmófitos (pontes ósseas entre os corpos vertebrais).

O resultado desse processo pode ser o enrijecimento em qualquer região da coluna, a anquilose fibrosa e óssea, com imagem radiológica de aspecto de "coluna em bambu". Acomete preferencialmente o sexo masculino, com idade de início habitual dos 16 aos 30 anos, porém existem relatos de início na infância.

Diagnóstico

Existem vários aspectos a ser analisado para o seu diagnóstico.
1. Dor lombar por um mínimo de três meses, que piora com o repouso e melhora com os exercícios;
2. Limitação dos movimentos da coluna lombar nos planos frontal e sagital;
3. Redução da expansibilidade do tórax;
4. Sacroileíte bilateral, com ou sem anquilose;
5. Sacroileíte unilateral.

Entre as formas de apresentação, classificadas clínica e radiologicamente temos:
• Clássica: dor lombar inflamatória, observando-se ao estudo radiológico sacroileíte e alterações da coluna lombar;
• Espinal: acomete somente coluna lombar, poupando a articulação sacroilíaca;
• Clínica: as radiografias simples são normais;
• Assintomática: sem manifestações clínicas e radiografias simples com sinais de sacroileíte;
• Associada: relacionadas a outras espondiloartropatias.

Quadro Clínico

O paciente apresenta dor lombar baixa ou na transição dorsolombar, de início insidioso, às vezes agudo, de difícil localização, definindo-se em seguida na região lombar ou na articulação sacroilíaca. A dor tem intensidade variável, geralmente com piora noturna e, pela manhã ou após períodos de inatividade. Melhora com exercícios e banhos quentes. Esta associada à rigidez vertebral podendo persistir por três ou mais meses. Pode apresentar dificuldade em sair da cama, e às vezes o paciente acorda com dor durante o sono. A dor pode estender-se à coluna dorsal ou cervical, ou ficar restrita a um segmento. Existem casos pouco sintomáticos, porém com rigidez vertebral. As manifestações clínicas da coluna vertebral podem ser precedidas por sintomas constitucionais como febrícula, falta de apetite, fadiga e fraqueza sendo que estes são presentes com maior freqüência na forma juvenil. Também podem ser acometidas as articulações periféricas, em especial joelhos e tornozelos, de forma assimétrica, podendo preceder o envolvimento da coluna vertebral.
Destaca-se a talalgia (dor nos calcanhares) entre as entesopatias.
Ao exame específico pode-se observar limitação do arco de movimento da coluna podendo associar-se a atitudes viciosas, como a "posição do esquiador". A manobra de Schöber é positiva.
A espondilodiscite (inflamação do disco e do corpo vertebral) encontrada em 5 a 6% dos casos e raramente se observa mielopatia (inflamação da medula espinal) e ou fratura vertebral na região cervical (C5/C6 e C6/ C7) e lesão crônica de cauda eqüina.
Entre as manifestações extra-articulares citamos: o acometimento ocular, uveíte anterior aguda que ocorre em 25 a 30% dos pacientes, podendo inclusive preceder o quadro articular ou manifestar-se em períodos de inatividade clínica. O acometimento cardíaco é observado em 1% dos casos, distúrbios da condução átrio ventricular e acometimento da artéria aorta, junto à válvula aórtica. No acometimento dos pulmões fibrose apical em raros casos e cavitação pulmonar por aspergilose. Lesões da mucosa intestinal podem ser evidenciadas pela colonoscopia. Amiloidose nos casos de longa evolução, particularmente a nefropatia (lesão dos rins) por IgA.

Exames Subsidiários

Laboratório
Imagem:Radiografia (das articulações sacro ilíacas, periféricas e da coluna), Tomografia,Ressonância Magnética e Mapeamento ósseo

Tratamento

Medicação
Podem ser receitados analgésicos e antiinflamatórios não-esteróides.
Cirurgia
Pode ser realizados procedimentos cirúrgicos, particularmente para reposição das articulações dos joelhos e quadril.
Reabilitação
Orientação doméstica quanto a postura, para se evitar vícios, exercícios respiratórios e localizados para membros, e de extensão para a coluna. A fisioterapia regular é essencial no tratamento deste paciente. Ocorre continuamente deposito de tecido fibroso, como resultado de uma grande inflamação e a fisioterapia regular com um programa de exercícios monitorizados, "molda" o tecido fibroso ao longo das linhas de pressão que não restringem os movimentos do paciente.
O objetivo do trabalho da fisioterapia é: aliviar a dor; minimizar deformidades; mobilizar as articulações que foram afetas e reassumir a forma física.

Exercícios adequados

- Deitado: relaxamento fisiológico. Praticar tendo a sensação de uma posição de coluna vertebral estendida reta. Empurrar braços e pernas para o assoalho (isometria para quadríceps, glúteos e extensores da coluna lombar).
- Deitado com o joelho fletido: rolar os joelhos de um lado para o outro. Levar o braço direito para cima e para baixo, virar a cabeça para ver a mão, repetir com a esquerda. Exercícios de respiração profunda com mãos sobre o abdômen superior (encorajar o uso total do diafragma). Fazer movimentos de antero e retro versão.
- Deitado em decúbito ventral: levantar e abaixar os membros inferiores estendidos, alternando as pernas e depois com ambas. Mãos presas atras das costas, impulsionas as mãos na direção dos pés com a cabeça e ombros se elevando e relaxando. Colocar as mãos no assoalho, elevar a cabeça e os ombros (andar levando as mãos para a direita e depois para a esquerda).
- Sentado: estirar a cabeça e o pescoço para cima (correção da postura). Mãos sobre os ombros, virar o tronco de um lado para o outro. Prender as mãos, fletir e girar para tocar o pé direito, estirar para cima e para trás para a esquerda, olhando as mãos, repetir do outro lado. Cabeça e pescoço virando de um lado para o outro.
- Em pé: mãos nos ombros, tronco virando de um lado para o outro. Respiração profunda. Tronco virando de um lado para o outro

Evolução e Prognóstico

A evolução é favorável na maioria dos casos, sendo que quando houver acometimento das articulações coxofemorais e da coluna cervical o curso evolutivo é pior. As mulheres e formas de início mais tardio costumam apresentar melhor evolução. As deformidades são observadas num período de 10 anos ou mais de evolução. A mortalidade, ainda que baixa, geralmente ocorre na compressão medular resultante de sub luxação da articulação atlas-axis e na insuficiência renal devido a nefropatia por amiloidose.

Fonte: Dr. Stenio Guilherme Vernasque da Silva

                                    Postado por: Suênia Peixoto